quinta-feira, 28 de maio de 2009

Cadeira

Estava sentada, olhava para o espaço vazio à sua frente, ao seu redor ao mesmo tempo em que olhava para o espaço em branco na sua história. Quando pensava nisso, ela via um caderno antigo, amarelado, com linhas já quase se apagando e sem nenhum vestígio de carvão ou de tinta da cor que fosse. Não havia nada, só branco. Sentia que os minutos de sua vida se passavam rasgando por ela, sentia que todos eles passavam por entre seus dedos e que seus dedos eram despreparados demais para agarrar qualquer um deles. Cada minuto era uma lâmina fina cortando a sua pele, rápida e imperceptivelmente.
A cadeira era dura demais, suas costas reclamavam, suas pernas formigavam. Toda a dor era ignorada, no máximo um movimento leve era feito, ela não podia aparentar desconforto de modo algum, era uma regra dela para ela mesma. Então era isso que ela fazia: um movimento simples e quase gracioso, como um movimentar de cabelos e mais nada. Aguentava naquela pose quanto tempo fosse preciso. A cadeira era dura, era dura que nem a vida. "Se a vida fosse menos dura, não teria a menor graça.", ela se lembrou automaticamente, dando um meio sorriso particular e quase feroz. Quem visse de fora não entenderia, teria vontade de decifrar o pensamento que se passava pela cabeça dela, acreditaria que fosse um pensamento sujo. Mas não era, não era sujo. Era um pensamento forte e corajoso, apesar de sua crença de que sua força e coragem tivessem sido deixados em alguma sarjeta imunda da cidade e levados por alguma chuva forte que tinha dado nos últimos dias. Ainda assim, seu pensamento era corajoso e intenso, pelo menos isso. Ela não se considerava nem um, nem outro, ultimamente. Mas ainda assim, não desacelerava e não tinha idéia do porque. Ela não se acalmava e não estava satisfeita com isso, porque aquele nervoso contínuo estava se misturando a ela de tal forma que chegaria um dia que ela não saberia separar um do outro. Aquela fúria estava em seu olhar, quente e arredio. Desses olhares que não ficam dois segundos no mesmo lugar e que ainda assim não são assustados. Aquela fúria estava em suas mãos, que apertavam qualquer coisa como se fosse a beira da rocha que salvaria a sua vida. Objetos de cristal deveriam ficar a uma distância segura, ela se lembrou com outro sorriso, dessa vez mais divertido. Era assim sempre, sua vida era cortante a cada minuto e dura que nem a maldita cadeira em que estava sentada mas ela sempre acabava encontrando um gracejo a ser feito, sempre dava risada de algo, mesmo que fosse banal, mesmo que não tivesse vontade. O som do seu riso e o movimento incomum que ela fazia com o corpo, com os braços e com o rosto eram um bálsamo que a incentivava a continuar, apesar de que ela ainda não havia se conformado em como arrumava jeitos de continuar e continuar. Ela sempre arrumava uma forma de rir, de apertar os olhos nem que fosse pra conter as lágrimas que vinham e dar um sorriso, nem que fosse para sorrir da própria dor.

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