terça-feira, 24 de novembro de 2009

Strip Tease


Chegou no apartamento dele por volta das seis da tarde e sentia um nervosismo fora do comum. Antes de entrar, pensou mais uma vez no que estava por fazer. Seria sua primeira vez. Já havia roído as unhas de ambas as mãos. Não podia mais voltar atrás. Tocou a campainha e ele, ansioso do outro lado da porta, não levou mais do que dois segundos para atender.

Ele perguntou se ela queria beber alguma coisa, ela não quis. Ele perguntou se ela queria sentar, ela recusou. Ele perguntou o que poderia fazer por ela. A resposta: sem preliminares. Quero que você me escute, simplesmente.
Então ela começou a se despir como nunca havia feito antes.

Primeiro tirou a máscara: "Eu tenho feito de conta que você não me interessa muito, mas não é verdade. Você é a pessoa mais especial que já conheci. Não por ser bonito ou por pensar como eu sobre tantas coisas, mas por algo maior e mais profundo do que aparência e afinidade. Ser correspondida é o que menos me importa no momento: preciso dizer o que sinto".

Então ela desfez-se da arrogância: "Nem sei com que pernas cheguei até sua casa, achei que não teria coragem. Mas agora que estou aqui, preciso que você saiba que cada música que toca é com você que ouço, cada palavra que leio é com você que reparto, cada deslumbramento que tenho é com você que sinto. Você está entranhado no que sou, virou parte da minha história."

Era o pudor sendo desabotoado: "Eu beijo espelhos, abraço almofadas, faço carinho em mim mesma tendo você no pensamento, e mesmo quando as coisas que faço são menos importantes, como ler uma revista ou lavar uma meia, é em sua companhia que estou".

Retirava o medo: "Eu não sou melhor ou pior do que ninguém, sou apenas alguém que está aprendendo a lidar com o amor, sinto que ele existe, sinto que é forte e sinto que é aquilo que todos procuram. Encontrei".

Por fim, a última peça caía, deixando-a nua
"Eu gostaria de viver com você, mas não foi por isso que vim. A intenção é unicamente deixá-lo saber que é amado e deixá-lo pensar a respeito, que amor não é coisa que se retribua de imediato, apenas para ser gentil. Se um dia eu for amada do mesmo modo por você, me avise que eu volto, e a gente recomeça de onde parou, paramos aqui".

E saiu do apartamento sentindo-se mais mulher do que nunca.

domingo, 22 de novembro de 2009

Uma nota de decepção

Mais um castelo que se desmoronou. Irremediavelmente? Por pouco tempo? Não sei. E sinto-me magoada. Não, não me sinto magoada. O que há em mim é sobretudo desilusão, por pensar que conhecia os outros e julgar que nunca alguém seria capaz de chegar a este ponto crítico de falta de caráter e hombridade.
Estou profundamente decepcionada. Com a falta de coragem das pessoas, coragem pra serem sinceras umas com as outras, mas principalmente pela falta de coragem para entenderem e lutarem pelo o que elas sentem e acreditam.
Falta-lhes dignidade. Sobra-lhes egoísmo. A mim falta olho crítico e me sobra compaixão, e são essas coisas que, combinadas entre si e em regra geral, nos fazem sentir assim da forma como estou agora... as malditas expectativas que se elevam sem uma justificativa racional.
E custa ver que ninguém vale a merda que caga, que as palavras não passam de dissimulações. Custa saber que acreditamos no que havíamos jurado não acreditar mais, por termos nos deixado levar pelo que prometemos resistir. E o pior de tudo é saber que estamos essencialmente desiludidos conosco pela nossa cegueira.
Não sei como reagir a isso. A única coisa que tenho como certa, é tudo o que sinto. E isso, sinceramente, não ajuda mesmo em nada...

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

O velho truque do calendário

.
A cada ano que se passa, temos a ligeira impressão de que ele tem duração menor. Isso tudo devido as inúmeras tarefas as quais somos submetidos. Estamos sempre correndo com prazos, projetos, planos e sonhos - inclusive aqueles que ficam só no travesseiro. Quando paro para fazer uma reflexão sobre o que eu quero levar comigo para o próximo ano, não preciso pensar para responder: quero tudo. Quero as decepções, quero as comemorações, os amores que não deram certo, os arrependimentos e as conquistas. Quero tudo isso para não esquecer de quem sou.
.
Toda vez que o final do ano se aproxima, tenho a mesma sensação: a vida não continua; recomeça. A página do calendário virada nada mais é do que uma carga de aprendizados e mais uma oportunidade de novidades para serem adicionadas. Reinvente-se, crie, ouse e seja. O melhor que você puder.

sábado, 7 de novembro de 2009

Vazio

Hoje senti falta de um perfume do qual nunca senti o cheiro. Hoje procurei por alguém que talvez nunca tenha conhecido, suspirei fundo e pensei em alguém que talvez esteja por aí, mas eu não sei. Procurei também por mim mesma, pelos meus sonhos que por alguns minutos fugiram e todo o sentido que eu estava sentindo existir, que de repente se foi. Procurei, ainda mais, pelo "nós dois" perdido em algum momento, e me perguntei se algum dia eu o acharei em qualquer lugar. Sinto falta de alguém, sinto falta de algo, cansei das minhas ilusões. Vezenquando percebo que sinto tanta, tanta falta...

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Aprendi Sozinha

Já me falaram que pra ser interessante tem que ser bonito, que pra ser bonito tem que ser magro, que pra ser magro tem que passar fome. Já me falaram que para ganhar dinheiro tem que trabalhar, mas que pra conseguir um bom trabalho tem que ter sorte e que sorte não se compra no mercadinho da esquina. Já me falaram que ter sonhos é bobagem, que sonhar muito é ocupação de preguiçoso e que preguiça faz mal. Que Papai Noel não existe e que só acredita nele quem é criança e que ser criança é tempo finito. Já me falaram que o bom é o preto no branco, que usar preto emagrece e que roupa branca se lava com água sanitária. Que dormir oito horas é o certo, desde que se deite às dez horas e se levante às seis horas, passando disso te chamam de desocupado. Já me falaram que ler é importante, mas que leitura boa é aquela de gente inteligente e que parecer inteligente ta na moda. Que ser educada é falar baixo, cruzar as pernas quando se senta e que permanecer sentado muito tempo interfere na circulação. Já me falaram que escrever é terapia e que terapia é coisa de maluco. Que ser feminina é estar sempre cheirosa e arrumada, mas que mania de arrumação é irritante. Já me falaram que homem adora mulher de unhas pintadas de cor clara e sem celulite. Que a vida de solteiro é vazia e que a vida de casado enche.Já me falaram que homem não presta e que amor de verdade é história de novela mexicana. Que romantismo é coisa do passado, que pra se dar bem a gente tem que jogar. Ou seja: Fingir ser. Fingir sentir. Fingir sorrir. Fingir mentir. Fingir, fingir. fingir e fingir. Mas, falaram-me também da importância de ser fiel a mim, de fazer crescer a crença em minhas convicções. Falaram-me: Stephanie, seja dona das suas opiniões! Que não existem verdades inexoráveis. Então, descobri que beleza de verdade é que ta do lado de dentro, que pra ser bonito basta se sentir assim. Descobri que comer além da conta às vezes não faz mal a ninguém e que dinheiro não é o mais importante. Aprendi que sorte é materialização do esforço e que o trabalho dignifica qualquer conquista. Descobri que sonho é como o sangue que corre nas veias e que ter preguiça é natural. Que permanecer criança é tão importante quanto se tornar adulto. Aprendi que ao preto e ao branco podemos misturar mais cores e fazer do mundo um arco-íris. Aprendi que não importa dormir oito minutos, oito horas ou oitenta anos, se o que vale é estar acordado para os sinais que a vida nos dá. Aprendi que ser desocupado é um tipo de ocupação que estabelecemos com o nada e que fazer nada também cansa. Aprendi que todo tipo de leitura alimenta desde que nos remexa por dentro. Que a inteligência da moda é aquela que nos permite entender e aceitar as pessoas como elas são. Aprendi que ser educado é demonstrar respeito. Que gritar limpa o espírito.Que pra circulação é bom fazer caminhada e que é pra frente que se anda. Aprendi que caneta e papel em mãos é arma contra a melancolia e que todo mundo precisa de terapia. Aprendi que felizes são os malucos, pois eles são livres. Aprendi que o que irrita é necessário e que até o necessário é prescindível. Que esmalte escuro fortalece as unhas e que celulite é feminino. Aprendi que o que preenche a vida não é seu estado civil, mas o recheio que escolhemos para colocar dentro dela. Aprendi que ser antiquada é bacana e que também posso ser atriz de novela mexicana. Aprendi que ser mau jogadora não me torna necessariamente uma perdedora. Aprendi que o amor também pode vir de mãos dadas com a dor. Aprendi que não adianta forjar sentimentos, ensaiar sorrisos, maquinar mentiras ou fingir ser fantoche dos acontecimentos. Aprendi ser eu, com todas as cargas, todos os pesos, todas as dores, amores e dissabores que ser eu me traz. Mas ser eu, é divertido e isso, ninguém me falou. Isso eu aprendi sozinha.