terça-feira, 11 de maio de 2010

Um breve adeus ao pesimismo

Depois de então deixar transbordar um pouco dessa ausência atordoada e, exagerada, num outro dia, pós maré-alta, por que não: otimista. Copo duma metade muito cheia de ânsias, lugares vazios de companhia boa, e um carinho mal acabado; tudo que se tinha para sentir ainda pela frente, e estancou. Depois de jorrar quase todo esse líquido exasperado e químico, deixar a vida ir indo, à mercê de felicidades, volta-se a sorrir frente à bebezão bonito, ou um filhotinho de cão Pequinês. A cota de otimismo deve ter voltado, pela consciência dos erros, e de que todo ser é quase humano, e erra. Me dei a liberdade de exalar toda a minha melancolidade num só dia, extravasar toda essa angústia que vinha aumentando, e eu camuflava. Acordei então, regenerada; cabeça no lugar e razão no coração. Tentativas de controlar essa doença que é a minha oscilação de humor, quase que contagiosa aqui em casa. Genética, pode ser. Essa junção do sangue quente libanês e a teimosia indiana devem ter apimentado o temperamento dos três filhos geniosos que geriram, mesmo que na terceira ou quinta geração. Aos poucos, tudo mais aceso, ainda que à meia-luz, e venha ganhando claridade gradualmente. Reconheço já meus erros tão de perto, e com as peças desse dominó atemporal se montando, detalhe revisto pós detalhe, a consciência de que minha oferta seja talvez proveitosa demais, e os caminhos, refeitos, a ciência ainda não nos brindou com volta no tempo. Por mais que eu tente, e me esforce, as minhas escolhas já foram feitas. As estradas estão abertas, livres, e ainda assim, mil opções de rotas e trajetos, destinos. Tais que, fazem minha cotação cair, e em baixa, tão insegura, apática e silenciosa, essa desvalorização com poder de magnetismo, capaz de afundar e ferir ainda mais os restos e partículas que insistem na vida, no esforço, na tentativa. O quase resultado dessa análise comportamental, é de que: tudo não passou de um orgulho, na hora mais imprópria pra essa história toda. Avião que decola, vôo alto, e inesperadamente, queda aprubta, onde os que sobrevivem são agora pedaços de tudo, aniquilados, separados, procurando seus semelhantes. Cozinhar, ela capricha; se cuida como ninguém e pratica ainda desefa pessoal. Rir, então. O único papel vago, nesse monólogo onde interpreto todos papéis possíveis, desde babá-irmã, filha-responsável, cozinheira-nas-horas-vagas, à morena-gostosa-do-bairro. Coube a você, a atuação mais bem paga, e inestimável: pessoa que consegue me arrancar a seriedade e florescer sorrisos e risadas, e me transportar, seja no tempo pra quando a gente era todo dia, ou no espaço; Lua, minha companheira de fé, Marte meu regente querido ou o Sol, meu amante inestimado, que só bem me faz: mais saudável, tostada e sensual. Não, não. Eu sempre aboli palhaços, piadas sem graça ou fundo algum de inteligência e verdade. Sua especialidade estava mais para stand up comedy, marcando presença quase que diária à sua fã mais necessária. Abrindo a porta da felicidade, colorindo dia e humor, e sem hora marcada, varrendo pra longe essa minha mania de ser tão certinha e crítica. Há uns dias, um mês que toda essa minha corte imaginária de ações temperamentais, difusas e bipolares, onde me consagro rainha inquestionável, se mantem tediosa e distante, se virando assim meio capenga. Vai como pode, sem a presença animada do jogral mais festivo, e intempestivo. Embora, a cada nova queda, o retorno fique cada vez mais e mais dificultoso; manco e complicado. O sol brilha ainda amanhã, e os consertos já foram feitos, e o combustível, reposto. Quando a nossa parte termina, começa então a do outro. Mais ou menos como espaço, limite ou respeito, relações de amor e ódio perduram mais ou menos assim.

Camila Paier, adaptado.

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