segunda-feira, 12 de abril de 2010

De uma junção de amores.

Hoje eu queria falar-te de um modo pelo qual pudesses entender-me por completo. Queria assentar-me, aconchegada, em teu colo e pedir-te que me cantasses um som ao pé do ouvido. Algo que talvez me levasse a derramar lágrimas por toda a noite. Quem sabe eu liberto-me juntamente a elas, quem sabe eu não escorro, vermelha, pelas paredes do coração... Teu coração também sangra por cortes que, outrora, pensávamos ter cicatrizado? O meu sim. Os pontos que prendiam-me junto ao ferimento soltam-se com facilidade tamanha. Bem como eu obriguei-os a se fecharem, obrigam-me a abrí-los de um por um, em movimentos que façam-me agonizar junto deles.
Um dia, recordo-me bem, eu prometi que as coisas seriam diferentes. Foram diversas as vezes em que afirmei que estaríamos seguros, da minha parte. Mas sou sempre eu quem em perigo coloca-nos. E trago de volta para casa cada cinza de mim mesma. Trago-me, num maço escuro de um velho cigarro, para fora de mim. E a fumaça que eu solto, tu cheiras. Passivo te tornas do assustadoramente grande medo que tenho do que ainda me é irreconhecível.
E eu tento aprofundar-me na arte de nos conhecermos, a nós mesmos, e de, nas descobertas recentes sobre ti, redescobrir-me. Em ti há muito mais de mim do que em mim mesma, que não tenho espaço suficiente para guardar-me. E nem o quero. Despejar-me-ei completamente em ti, para que me guardes junto destes olhos, que tua alma tão bem revelam. Longe das feridas obscuras que tornam a abrir-se por sentimentos enterrados. Não quero citar isso. Eu mesma desenterrei alguns destes. Tento contentar-me em não me transformar com a tua presença. Impossível. Incendeia-me esta tua grave voz. Como poderia eu deixar de doar-me a ti? Parecia ingênuo, e então transportou-me, a mim e ao meu coração ferido, até a cura, que és tu. E agora me cuidas. Privilégio. E o coração meu habita o mesmo espaço que o teu. O olhar teu ainda me conforta. Cura-me. Como sendo o único médico que sutura perfeita e sutilmente cada vácuo aberto em mim. Seus lábios são minha anestesia. E cada vez mais eu os quero sentir.


por Mari Andrade

Nenhum comentário:

Postar um comentário